sexta-feira, março 19, 2010

É a ciência uma questão de fé?

Qual a menor distância entre dois pontos?
Todos saberiam dizer que a resposta é uma reta. Ok.
Quando tratamos de distância, obrigatoriamente, estamos tratando de espaço.
Mas, o que é um ponto no espaço?
Analisando a geometria, parte da matemática responsável pelo estudo do espaço, podemos perceber que tudo engloba o conceito de ponto. Uma reta é um conjunto de pontos traçados num plano seguindo uma única direção. Uma circunferência é um conjunto de pontos de um plano que estão a uma certa distância entre si de outro ponto, o centro. Este é um ponto equidistante de outros pontos num determinado plano. Desse modo, notamos que a noção de ponto é fundamental para o estudo do espaço. No entanto, paradoxalmente, para conceituar ponto podemos recorrer a tudo, menos o espaço. Não há como se determinar, precisamente, um ponto no espaço, visto que, se partirmos de uma visão microscópica, o mesmo sempre poderá ser identificado como figuras e não pontos. Um ponto no papel será um círculo. Um ponto desse círculo será outro círculo. E assim ad infinitum. Logo, podemos dizer que um ponto não pode ser mensurado; sem dimensão, portanto.
Trata-se de uma convenção nossa, em que aceitamos, como regra, sem consciência alguma disso, muito menos de suas implicações.
Manuel Soares Bulcão Neto, no livro Sombras do Iluminismo, vai mais além, prescrevendo que "todas as leis que descrevem relações estáveis e comportamentos gerais (por exemplo: dado x e y, então z ocorrerá), quando aplicadas a casos concretos, "jamais" traduzem-se em resultados cem por cento certos". Os exemplos podem ser os mais variados. Se, utilizando-se do exemplo do autor do livro, tentarmos aplicar a fórmula de Newton para a força gravitacional (F = G.m1.m2/d²), tendo em vista a Terra e a Lua, deparar-nos-íamos com inúmeros problemas que são, via de regra, desconsiderados: saber com absoluta precisão as massas envolvidas, a distância entre os corpos e a própria constante G, a qual compreende em suas formulações outras grandezas imensuráveis. Ora, diante disso, "Como essas invariantes, cujas grandezas são intrinsecamente imprecisas, figuram nas fórmulas que expressam as leis da Física (p.ex., E = m.c², F = G.m1.m2/d², etc.), a conclusão, portanto, é que toda lei estabelece para si mesma uma margem de indeterminação e incerteza". É assim que "a imprecisão imanente a todas as grandezas concretas, contém também em si o seu contrário: o Acaso".
Com isso, vemos que a ciência é baseada em dogmas, postulados e leis não tão precisas como imaginamos. As premissas, muitas vezes, não são bem esclarecidas. Estamos, até mais do que pensamos, sujeitos ao acaso, sem nem mesmo ter consciência disso.
Pra mim, talvez precisamos ter mais fé para com a ciência - porque sabemos, absolutamente, que ela nunca vai nos ser capaz de responder todas as questões da vida, mas, ainda assim, acreditamos nela - do que para com quaisquer religiões, pois, ao menos, estas nos deixam o benefício da dúvida.

Edvaldo Moita

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